Zoeiras da Night.

Estava cansada, por causa de um ridículo erro de calculo tive de correr por toda cidade. Acabei parando em uma rua pouco movimentada, não a conheci de primeiro momento, mas meus perseguidores haviam sumido, o que me deixava aliviada. Atendendo os desejos de meu corpo cansado, permiti que me deitasse sobre a desconfortável calçada, pouco me importando como questões de higiênicas. Permaneci de olhos fechados por algum tempo até escutar discretos sons de passos vindos de uma distancia pouco segura. Me levantei e fiquei a fitar a figura que aos poucos tomava forma, era um rapaz ligeiramente atraente, loiro, olhos verdes e de porte médio, de fato alguém que conseguia arrancar suspiros do gênero oposto. Mesmo não sendo das mais vaidosas não queria me apresentar daquela maneira, acabou que no desespero me escondi atrás de um dos postes que proporcionavam a iluminação do local.

Não esperava ser encontrada tão facilmente, ainda mais recebendo aquele tipo de recepção. Quer dizer que ele é supersticioso ? Pensei enquanto alimentava minha imaginação com idéias maldosas para me aproveitar do recém conhecido. Me encolhi ainda mais na tentativa de encobrir minha identidade, mas no fim aquele não era um bom esconderijo já que minhas madeixas azuladas sempre ficava expostas. Antes que pudesse por as mãos na oferenda, minhas narinas foram preenchidas com um cheiro diferente, era beterraba, uma escolha estranha para um perfume. Naquele momento acabei me arrependendo de adentrar a estranha rua, um bebê gigante com um feição semelhante a um chuchu trombou com algum tipo de animal que continuou o seu caminho como se nada tivesse acontecido. Fiquei aterrorizada e acabei me juntando ao loiro oferecendo as poucas moedas que tinha no bolso como oferenda.

- Ó-Óh, ser desencarnado, aceite meu dinheiro como oferenda de paz...

Falei em voz baixa.

Já estava insatisfeita quando o aroma do estranho "perfume" de chuchu invadiu minhas narinas, imagina quando esse foi substituído por um desagradável odor semelhante a urina de cachorro ? Minha expressão logo se tornou mais amarga, uma reação normal para aqueles que são impostas condições como aquela, mas a figura que aparecera de uma hora para outra parecia não compreender tal fato. Descreve-lo era praticamente impossível, não sabia nem ao menos se tratava de um humano já que boa parte de seu corpo estava coberto de lama, de fato uma figura assustadora. Senti meu corpo estremecer assim que ele pronunciou algumas palavras. O que elas diziam ? Pouco me importava, meu instinto de sobrevivência só conseguia dizer que permanecer ali era perigoso. Infelizmente não tinha para onde correr e acabei usando da única opção viável, agarrei o loiro que clamava o perdão dos espíritos e utilizei como uma espécie de escudo.

- Chega de brincadeira e faça alguma coisa ! - Sussurrei em seu ouvido - Ele não parece estar muito feliz ...

Não entendia de fato o que estava acontecendo, todas aquelas coisas sobre espíritos, odores e seres estranhos, acabaram tornando aquele cenário incompreendível. Joguei uma moeda pra o rapaz que tentava golpear o espirito, que não sabia se realmente estava ali ou não, ao melhor o Charlie Chaplin. Murmurava alegremente uma música que combinava com a situação, já havia desistido de tentar compreender o que acontecia ao meu redor. Uma zona de conforto, ignorei tudo e todos aqueles que de fato não deveriam ser ignorados, assim poderia recuperar ao menos uma parte de minha sanidade. Ainda seduzida pelos deslumbrantes movimentos do rapaz, senti que alguém tentava me trazer de volta para a realidade. Pobre alma, estava prestes a desabafar palavras maldosas provindas do meu ótimo humor, mas fui interrompida por algo ainda mais improvável do que os fatos que ocorram anteriormente. Um rapaz que nunca tinha visto antes me chamou pelo nome como se nos conhecemos a tempos ! Fiquei bastante assustada, confesso, seria aquela apenas uma coincidência ou havia de fato feito fama nos mares da Grand Line ?

- Não, obrigada.

Minhas palavras foram frias o bastante para destruir o coração do rapaz, algo que não tinha a minima importância, já que todo interesse que havia surgido pelo rapaz se extinguiu no momento em que ele me chamou para sair. Apertei novamente o botão de desligar, ou melhor dizendo, voltei para minha amada zona de conforto onde poderia observar novamente a árdua batalha de um louco contra algo inexistente.

Spoiler: